Antes do primeiro discurso do presidente Biden sobre o Estado da União, a Casa Branca anunciou planos para lidar com a crise de saúde mental do país, chamando especificamente o impacto das mídias sociais em crianças e adolescentes. Esta questão tem sido a principal preocupação de alguns membros do Congresso, especialmente depois que a denunciante Frances Haugen vazou uma série de documentos internos condenatórios do Facebook (agora Meta), incluindo evidências de que a empresa está ciente de seu impacto negativo sobre os adolescentes.
De acordo com a Casa Branca, o presidente Biden pedirá ao Congresso que fortaleça as proteções à privacidade, proíba a publicidade direcionada a crianças e incite as empresas de tecnologia a pararem de coletar dados pessoais de crianças.
A tecnologia normalmente não desempenha um papel significativo nos discursos do Estado da União, e é possível que Biden nem aborde esses pontos hoje à noite, dada a crise mais imediata em relação A invasão russa da Ucrânia. Independentemente disso, o presidente está pedindo às plataformas de mídia social que protejam a segurança de seus usuários mais jovens. A primeira-dama Dr. Jill Biden até convidou Haugen para o evento como convidado especial, indicando a atenção do presidente para sua defesa, o que desencadeou uma série de cinco audiências no Senado com executivos de mídia social.
“O presidente acredita não apenas que devemos ter proteções muito mais fortes para os dados e a privacidade das crianças, mas que as plataformas e outros provedores de serviços digitais interativos devem ser obrigados a priorizar e garantir a saúde, a segurança e o bem-estar de crianças e jovens acima lucro e receita no design de seus produtos e serviços”, diz o briefing da Casa Branca.
Essa linguagem é uma reminiscência da retórica de Haugen ao longo de suas aparições no Congresso, como ela observou repetidamente desde sua entrevista no “60 Minutes” que, de sua perspectiva como ex-funcionária, o Facebook prioriza lucros em vez de segurança.
O presidente também delineou um plano para investir pelo menos US$ 5 milhões em pesquisas sobre como as mídias sociais nos prejudicam e quais intervenções clínicas e sociais podem ser usadas para lidar com esses danos. O Departamento de Saúde e Serviços Humanos também lançará um Centro Nacional de Excelência em Mídias Sociais e Bem-Estar Mental, que educará o público sobre o impacto do uso de mídias sociais por adolescentes.
Biden também deve pedir ao Congresso que proíba a publicidade direcionada excessiva e a coleta de dados sobre crianças. Em vigor em 2000, a Lei de Proteção à Privacidade Online das Crianças (COPPA) destina-se a restringir o rastreamento e o direcionamento de usuários menores de 13 anos, mas a lei não pode ser aplicada a menos que uma plataforma esteja ciente da idade de seus usuários. Portanto, a COPPA geralmente não é facilmente aplicável, pois uma criança pode simplesmente clicar em uma caixa “sim, tenho 13 anos” e acessar o conteúdo não destinado a ela.
Alguns legisladores já tentaram atualizar a COPPA para torná-la mais eficaz. O senador Ed Markey (D-MA) e o senador Bill Cassidy (R-LA) propuseram um projeto de lei no ano passado que tornaria ilegal que empresas de internet coletassem dados pessoais de usuários entre 13 e 15 anos sem o consentimento deles. Essa legislação também criaria um “botão de apagar”, que permitiria aos usuários (ou seus pais) apagar manualmente os dados que uma empresa coletou sobre eles.
O conceito de um “botão de apagar” também apareceu no recém-lançado Kids Online Safety Act (KOSA), apresentado pelo senador Richard Blumenthal (D-CT) e pela senadora Marsha Blackburn (R-TN). Em outubro, representantes do YouTube, TikTok e Snap concordaram em uma audiência no Senado que os pais deveriam ter a capacidade de apagar dados online de seus filhos ou adolescentes.
O briefing da Casa Branca também aborda como o conteúdo veiculado por algoritmos pode resultar em impactos negativos na saúde mental, especialmente entre mulheres jovens de cor.
“As pesquisas por ‘meninas negras’, ‘meninas asiáticas’ ou ‘meninas latinas’ muitas vezes retornam conteúdo nocivo, incluindo pornografia em vez de modelos, brinquedos ou atividades. As plataformas moldam como nossos filhos entendem o que é possível e acessam oportunidades”, diz o briefing. “Devemos garantir que plataformas e outros sistemas aprimorados por algoritmos não tenham como alvo nossos filhos de forma discriminatória.”
Várias contas têm flutuava pelo Congresso nos últimos anos que visam resolver os problemas que a Casa Branca está delineando neste briefing, mas poucos chegaram perto de ser aprovados. Mesmo quando a legislação ganha força suficiente para se tornar lei, às vezes ela não alcança o que pretendia alcançar. Em 2018, o ex-presidente Trump assinou o Ato de Combate ao Tráfico Sexual Online (FOSTA) em lei. Como o próprio nome sugere, a lei pretendia coibir o tráfico, mas, em vez disso, apenas criou condições mais perigoso para trabalhadores sexuais consensuais.
Além de dedicar US$ 5 milhões à pesquisa e à criação de um Centro Nacional de Excelência em Mídias Sociais e Bem-Estar Mental, o comentário de Biden sobre mídias sociais e saúde mental apenas ecoa o que vem sendo debatido no Congresso há anos. Mas essas mensagens confirmam que Biden está, pelo menos um pouco, prestando atenção nas vidas que os americanos levam online.
O presidente se dirige à nação esta noite às 21h ET; informaremos sobre quaisquer atualizações na Casa Branca e nas mídias sociais.
source – techcrunch.com